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'Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma'-Lavoisier***********************************************'Posso não concordar com o que dizes mas lutarei para que o possas sempre dizer' - Voltaire
É de louvar a iniciativa denominada “Histórias do fado” levada a cabo pelo jornal A Capital que suscitará decerto, o interesse de muitos e esclarecerá dúvidas de outros em relação à canção nacional.
No entanto, parecem-me permentes, algumas considerações cujo teor, embora isento de pormenores, não pode nem deve ser ignorado, sob pena do fado cair numa modorra febril.
Quando alguém imiscuido no meio fadista, afirma que nos ultimos anos se tem assistido a uma renovação nas letras e nos poemas de fado, é bom que se saiba, que hoje em dia, escasseiam os letristas e poetas populares a escreverem com qualidade para o fado. Nem sequer se pode entender como renovação, o facto de se cantarem poemas do Camões ou do Pessoa, já que estes nunca escreveram para o fado.
O que aconteceu, é que alguns que se intitulam fadistas, ( Há quem afine a garganta / p’ra que alguém por faia o tome, / mas o fado que ele canta / de fado, só tem o nome. ) aproveitaram-se da incursão de Amália pelos poetas eruditos, para com isso atingirem alguma notoriedade e disfarçarem assim as diversas lacunas artisticas, esquecendo-se porém, que a diva do fado, não necessitou de cantar poetas universitários para se notabilizar. O talento nato da grande Amália afirmou-se, interpretando letras de Linhares Barbosa, Gabriel de Oliveira, Carlos Conde, Armando Neves ou Silva Tavares, alguns dos poetas da escola da vida.
Era a época em que estes letristas, estendiam a mão aos que hoje os criticam, esqueceram o berço, não tinham pão e hoje cospem na sopa.
É por isso, que nunca o fado, como hoje, teve uma estética e uma ética tão pobres, mercê de gente que se vangloria de ter dado a volta ao fado, o que não deixa de ser uma torpe presunção.
Felizmente, embora raros, despontam novos interpretes, que respeitam o fado como canção intimamente popular, interpretando repertórios populares, que qualquer cidadão menos letrado compreende, permitindo assim uma maior comunhão entre o público e o fadista.
É que o poeta popular, no fado, está acima de qualquer outro, não só porque respeita rimas e métricas e não usa todo o vocabulário, mas acima de tudo ( ao contrário dos que sem qualquer talento nato se obrigaram a ser poetas ) aprendeu a escrever na universidade da vida.
Conclui-se assim, que os que se dizem renovadores, não são mais que sombras ténues daquilo que se intitulam, em relação aos quais, o fado e o tempo se encarregarão de apagar da história. Até se podem reunir no CCB, ridicularizarem-se com o “fado-jazz”, mas façam um favor ao país; Não chamem nomes ao fado!
Paulo Conde - A Capital - 2002